terça-feira, 28 de julho de 2009

Acalento

(para Roque, meu irmão desde sempre)

Sim, sim, meu menino
Segue o vento
E corre o tempo em cabriolas
Passa a infância
Pés descalços na varanda
Um quintal que já não há
Uma banda amputada de passado
Ai, minhas fulores
De mandacaru
Branquinhas, bem branquinhas
Ao breu da noite
(e à voz adocicada de meu pai)
E logo à luz
Ao claro céu do alvorecer
Enegrecidas
Murchinhas, encolhidas
Pelo chão
Nada dura
Além de nós.

*Inspirado no soneto "A casa", de Roque Pinho

domingo, 19 de julho de 2009

Cinza

Passou, passou da hora
Já não há mais
Querer
Perdeu-se no ar
Sequer restou
Penar
Ou sonho
Ou memória
Outro amor perece
Sob a sombra renitente
Do porvir
E a vida segue
Solitária
Imponderável
Sequer pergunta se há desejo
Indiferente
Nesta tarde nebulosa
Sob os céus
Nem luz, nem escuridão
A vida é cinza.