segunda-feira, 27 de abril de 2009

Existencial

(a um nobre passarinho à minha janela)

O céu em brasa aquece um novo alvorecer
Minha alma se aguça, já é dia
A noite foge, empalidece, o sol ressurge
O primeiro passarinho cantarola
E tripudia sobre os galhos da inocência,
Cantando forte, canta a vida, o seu destino
Vive a essência que no corpo resplandece
Eu, cá no peito, silencio o desatino
Nasce outro dia, minha alma anoitece

O céu em brasa aviva as dores do meu tempo
Meu corpo se recolhe, já é noite
De outro pesar, outra lembrança, a mesma sina
Um som escapa desta alma tão vazia:
Choro os pedaços dos meus sonhos de menina
Rouco, o meu peito solitário já não canta
Choro em silêncio, choro a vida, essa ilusão
O pensamento a dor do mundo desencanta
Um passarinho engaiolado chora em vão

O céu em brasa testemunha a minha dor
O sol levanta, é mais um dia de existência.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Agonia

É um pedaço de alma a palpitar na garganta
migalhando virar grito,
sapateiam no estômago,
vão subindo efervescentes
palavras incógnitas
assim, arranhando o céu da boca,
cócegas aflitas
num frêmito sem fim,
sem merecer ganhar o ar
assim, como poesia no escuro do quarto
martelando o pensamento,
sem merecer nem o papel
assim, passarinho na gaiola,
goela rouca de cantar
sem merecer nem céu de chuva,
a imensidão fora das grades,
cavalos soltos no porão
sem saber o que é arreio
amiúde nesse meu peito
de eterna iminência
de não-sei-o-quê.