terça-feira, 16 de março de 2010

Ares das Mercês

Dedicado ao centro da cidade do Salvador,
“Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...”
(Mário Quintana, O Mapa)

Era uma tarde de março
Depois da manhã

Sobrados de quase memória
Fachadas de mim

Era uma sombra de som
O vento nas folhas

Curva de céu ao redor
O centro oco

Era um capricho de fé
A cruz fincada

Cinzentas andanças de sol
Tudo era pouco.

sexta-feira, 5 de março de 2010

É noite ainda

“O perdido coração enrija e rejubila-se
No lilás perdido e nas perdidas vozes do mar
E o quebradiço espírito se anima em rebeldia
Ante a arqueada virga-áurea e a perdida maresia
Anima-se a reconquistar (...)”
(T.S. Eliot, Quarta-feira de cinzas)

Foi quando a noite se abateu sobre nós dois
Que tuas cores ressurgiram avivadas
Sobriedade, tons amenos misturados
Na extata medida do que são
Daqui de dentro, observo atenta cada passo
Eu vi e vejo, amor, tudo o que passa
E sei que uma semente permanece
Ávida por rebrilhar em novas cores
Num tempo indefinido além de mim, além de nós
Uma herança eterna atravessa o dia e a noite
Perfura a escuridão como uma flecha
Desenhando nosso amor pelo infinito
E quando tremo a observar tua canção,
Passos no tempo desta breve caminhada,
Quero ter uma manhã reinventada,
Arder pela coragem de gritar,
Como quem em plena escuridão
Clama por um dia antecipado:
- Renasce, meu amor,
Eu te suporto!
Mas é noite, amor, ainda
Ainda não.