quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Voragem

(para José)

Caminhávamos sóbrios, nós dois
Era tempo de seguir

À frente, a imensidão de uma árvore se impunha
Seca, frondosa, desfolhada
 éramos pequeninos 
Um pássaro negro habitava-lhe o topo
Apenas um, solitário, como nós
Embora fôssemos dois

No céu, um poente nublado
Eivando de sombras a paisagem
Banhava-nos de certa luz oblíqua
Atravessando nossos olhos de incerteza
Em redor, via-se o ermo, apenas
O descampado sem fim
 éramos finitos 

Vastidão,voragem sombria de onde a noite vertia
Aos poucos derramada sobre nós
Aos nossos olhos sóbrios, atravessados
Seguíamos desafiando a escuridão
 éramos cegos 
Embora soubéssemos os passos

E no breu de um instante supremo
 sem passado, nem futuro 
Sumíamos de nós no escuro
Devorados pela noite
Onde tudo permanece e tudo some
Eu, no escuro de você
Você, no escuro de mim

Sumíamos de nós
No escuro
Era tempo de seguir.