Habito as horas demorosas desta noite
Os segundos gotejam espaçados
Seguem perdidos, um a um
No abismo das coisas ao redor
Desinventadas no escuro
Mas sabidas em mim
De súbito – agora –
Quando à mansidão noturna
Segue-se o espanto:
Encontro-me viva
No ventre soturno
De todas as coisas.
Pequenos poemas
-
a transitoriedade e a realidade
ledo engano
quem pensa o morro do Rio de Janeiro
assassina muitos inocentes
nunca ficou defronte da televisão...
Há uma semana
Mariana, quando li seus últimos versos soube que este trecho, de Clarice, também era seu:
ResponderExcluir"Quero o material das coisas. A humanidade está ensopada de humanização, como se fosse preciso; e essa falsa humanização impede o homem e impede a sua humanidade. Existe uma coisa que é mais ampla, mais surda, mais funda, menos boa, menos ruim, menos bonita. Embora também essa coisa corra o perigo de, em nossas mãos grossas, vir a se transformar em "pureza", nossas mãos que são grossas e cheias de palavras."
beijo
Minha nossa, Pri.. que texto! Bateu forte aqui...
ResponderExcluirSinto que essa coisa funda e áspera é tão vital quanto desconcertante. Como um olhar sóbrio sobre um denominador de sutilezas comum a todas as coisas, iclusive a nós (coisas desse mundo); como um estar contido, misturado, equivalente... de uma maneira orgânica, ou mesmo imaterial, mas sobretudo sutil e verdadeiramente crua...
Algo de uma neutralidade dolorosa demais pra nossos nervos humanos.rs
Um beijo
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCaramba Mariana, sintonia fina com Clarice!
ResponderExcluir"Porque é violenta a ausência de gosto de água, é violenta a ausência de cor de um pedaço de vidro. Uma violência que é tão mais violenta porque é neutra." (A paixão segundo G.H.)
A dor da neutralidade que impede o neutro do homem penso que é a dor que vem de se rasgarem os excessos, os adornos, para se alcançar a frequência, a matéria comum a tudo. Para que todas as coisas sejam unas, através da pureza neutra, que nivela e é vida - bruta. Mas vc tem razão, a sensibilidade dos nossos nervos humanos não nos permite ou, no mínimo, dificulta em muito tal audácia - a de chegar a tocar essa neutralidade. Mas há quem o faça.
"Encontro-me viva
No ventre soturno
De todas as coisas."
Só sei de vc e Clarice! rs
beijo
A noite é um aconchego,
ResponderExcluirprincipalmente quando do momento
antes de dormir.
Se insônia, horas noturnas passam e passam.
Seja insônia de tristeza ou de alegria.
Encontra-te viva na madrugada!
Encontra-te!
Que sozinha o caminho se contrasta com o redor.
Ganha foco.
Sozinha, no escuro e no silêncio,
você sonha para fora,
acordada,
até cair no sono e se perder
na névoa do dia seguinte.
Tava com saudade.
Pri, acho que eu preciso ler esse livro!rs
ResponderExcluirPenso que independentemente do toque, do olhar, da consciência, ela está lá, a neutralidade... latente, bruta, a ser percebida (ou não) por frestas sutis. Parece que nesse caso a escuridão ajuda a enxergar!rsrs
Gab, que lindo! leitura-poema-afago... rs Obrigada!
beijos
Maris,
ResponderExcluiré muito bonito isso "... no ventre soturno de todas as coisas."Parabéns
Mauro