quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Latência

Habito as horas demorosas desta noite
Os segundos gotejam espaçados
Seguem perdidos, um a um
No abismo das coisas ao redor
Desinventadas no escuro
Mas sabidas em mim 
De súbito  agora 
Quando à mansidão noturna
Segue-se o espanto:
            Encontro-me viva
            No ventre soturno
            De todas as coisas.

7 comentários:

  1. Mariana, quando li seus últimos versos soube que este trecho, de Clarice, também era seu:

    "Quero o material das coisas. A humanidade está ensopada de humanização, como se fosse preciso; e essa falsa humanização impede o homem e impede a sua humanidade. Existe uma coisa que é mais ampla, mais surda, mais funda, menos boa, menos ruim, menos bonita. Embora também essa coisa corra o perigo de, em nossas mãos grossas, vir a se transformar em "pureza", nossas mãos que são grossas e cheias de palavras."

    beijo

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  2. Minha nossa, Pri.. que texto! Bateu forte aqui...
    Sinto que essa coisa funda e áspera é tão vital quanto desconcertante. Como um olhar sóbrio sobre um denominador de sutilezas comum a todas as coisas, iclusive a nós (coisas desse mundo); como um estar contido, misturado, equivalente... de uma maneira orgânica, ou mesmo imaterial, mas sobretudo sutil e verdadeiramente crua...
    Algo de uma neutralidade dolorosa demais pra nossos nervos humanos.rs
    Um beijo

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Caramba Mariana, sintonia fina com Clarice!
    "Porque é violenta a ausência de gosto de água, é violenta a ausência de cor de um pedaço de vidro. Uma violência que é tão mais violenta porque é neutra." (A paixão segundo G.H.)
    A dor da neutralidade que impede o neutro do homem penso que é a dor que vem de se rasgarem os excessos, os adornos, para se alcançar a frequência, a matéria comum a tudo. Para que todas as coisas sejam unas, através da pureza neutra, que nivela e é vida - bruta. Mas vc tem razão, a sensibilidade dos nossos nervos humanos não nos permite ou, no mínimo, dificulta em muito tal audácia - a de chegar a tocar essa neutralidade. Mas há quem o faça.

    "Encontro-me viva
    No ventre soturno
    De todas as coisas."

    Só sei de vc e Clarice! rs

    beijo

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  5. A noite é um aconchego,
    principalmente quando do momento
    antes de dormir.
    Se insônia, horas noturnas passam e passam.
    Seja insônia de tristeza ou de alegria.
    Encontra-te viva na madrugada!
    Encontra-te!
    Que sozinha o caminho se contrasta com o redor.
    Ganha foco.
    Sozinha, no escuro e no silêncio,
    você sonha para fora,
    acordada,
    até cair no sono e se perder
    na névoa do dia seguinte.

    Tava com saudade.

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  6. Pri, acho que eu preciso ler esse livro!rs
    Penso que independentemente do toque, do olhar, da consciência, ela está lá, a neutralidade... latente, bruta, a ser percebida (ou não) por frestas sutis. Parece que nesse caso a escuridão ajuda a enxergar!rsrs

    Gab, que lindo! leitura-poema-afago... rs Obrigada!

    beijos

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  7. Maris,
    é muito bonito isso "... no ventre soturno de todas as coisas."Parabéns
    Mauro

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