Habito as horas demorosas desta noite
Os segundos gotejam espaçados
Seguem perdidos, um a um
No abismo das coisas ao redor
Desinventadas no escuro
Mas sabidas em mim
De súbito – agora –
Quando à mansidão noturna
Segue-se o espanto:
Encontro-me viva
No ventre soturno
De todas as coisas.
Jeito
-
É preciso encontrar um jeito
Não é força é jeito
Um jeito de corpo
Um jeitinho
Uma jogada de lado
Um
Há um dia
Mariana, quando li seus últimos versos soube que este trecho, de Clarice, também era seu:
ResponderExcluir"Quero o material das coisas. A humanidade está ensopada de humanização, como se fosse preciso; e essa falsa humanização impede o homem e impede a sua humanidade. Existe uma coisa que é mais ampla, mais surda, mais funda, menos boa, menos ruim, menos bonita. Embora também essa coisa corra o perigo de, em nossas mãos grossas, vir a se transformar em "pureza", nossas mãos que são grossas e cheias de palavras."
beijo
Minha nossa, Pri.. que texto! Bateu forte aqui...
ResponderExcluirSinto que essa coisa funda e áspera é tão vital quanto desconcertante. Como um olhar sóbrio sobre um denominador de sutilezas comum a todas as coisas, iclusive a nós (coisas desse mundo); como um estar contido, misturado, equivalente... de uma maneira orgânica, ou mesmo imaterial, mas sobretudo sutil e verdadeiramente crua...
Algo de uma neutralidade dolorosa demais pra nossos nervos humanos.rs
Um beijo
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirCaramba Mariana, sintonia fina com Clarice!
ResponderExcluir"Porque é violenta a ausência de gosto de água, é violenta a ausência de cor de um pedaço de vidro. Uma violência que é tão mais violenta porque é neutra." (A paixão segundo G.H.)
A dor da neutralidade que impede o neutro do homem penso que é a dor que vem de se rasgarem os excessos, os adornos, para se alcançar a frequência, a matéria comum a tudo. Para que todas as coisas sejam unas, através da pureza neutra, que nivela e é vida - bruta. Mas vc tem razão, a sensibilidade dos nossos nervos humanos não nos permite ou, no mínimo, dificulta em muito tal audácia - a de chegar a tocar essa neutralidade. Mas há quem o faça.
"Encontro-me viva
No ventre soturno
De todas as coisas."
Só sei de vc e Clarice! rs
beijo
A noite é um aconchego,
ResponderExcluirprincipalmente quando do momento
antes de dormir.
Se insônia, horas noturnas passam e passam.
Seja insônia de tristeza ou de alegria.
Encontra-te viva na madrugada!
Encontra-te!
Que sozinha o caminho se contrasta com o redor.
Ganha foco.
Sozinha, no escuro e no silêncio,
você sonha para fora,
acordada,
até cair no sono e se perder
na névoa do dia seguinte.
Tava com saudade.
Pri, acho que eu preciso ler esse livro!rs
ResponderExcluirPenso que independentemente do toque, do olhar, da consciência, ela está lá, a neutralidade... latente, bruta, a ser percebida (ou não) por frestas sutis. Parece que nesse caso a escuridão ajuda a enxergar!rsrs
Gab, que lindo! leitura-poema-afago... rs Obrigada!
beijos
Maris,
ResponderExcluiré muito bonito isso "... no ventre soturno de todas as coisas."Parabéns
Mauro