quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Voragem

(para José)

Caminhávamos sóbrios, nós dois
Era tempo de seguir

À frente, a imensidão de uma árvore se impunha
Seca, frondosa, desfolhada
 éramos pequeninos 
Um pássaro negro habitava-lhe o topo
Apenas um, solitário, como nós
Embora fôssemos dois

No céu, um poente nublado
Eivando de sombras a paisagem
Banhava-nos de certa luz oblíqua
Atravessando nossos olhos de incerteza
Em redor, via-se o ermo, apenas
O descampado sem fim
 éramos finitos 

Vastidão,voragem sombria de onde a noite vertia
Aos poucos derramada sobre nós
Aos nossos olhos sóbrios, atravessados
Seguíamos desafiando a escuridão
 éramos cegos 
Embora soubéssemos os passos

E no breu de um instante supremo
 sem passado, nem futuro 
Sumíamos de nós no escuro
Devorados pela noite
Onde tudo permanece e tudo some
Eu, no escuro de você
Você, no escuro de mim

Sumíamos de nós
No escuro
Era tempo de seguir.

4 comentários:

  1. lindo demais, li bem vezes, salvei no coração. mesmo cego sigo, mesmo surdo soo, mesmo sem sou...

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  2. Caralho, Mari, foda! Desculpe os palavrões, mas foram as primeiras coisas que me vieram à mente, e preferi dizer - mesmo me achando indelicado. Consertando um pouquinho, como já ouvi alguém dizer, lindo, com toda a intensidade que um palavrão pode ter.
    Lindo mesmo, moça.

    (Engraçado, voragem parece um neologismo... teve essa intenção?)

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    Respostas
    1. Alvinho, que bom que gostou!
      Não tive essa intenção. Na verdade, topei com essa palavra em alguma leitura e ela me causou um certo impacto, de encanto e desconforto ao mesmo tempo... já dizia algo de mim e ficou guardada por um tempo até sair assim em poema.

      P.s.: Nada contra os palavrões!;)

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  3. De uma delicadeza-profunda-sutil-voraz, que paira sublime sobre os corpos e mentes daqueles que não conseguem traduzir em palavras as sensações que os corpos-noite-suores nos dizem.
    belo!

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