sexta-feira, 30 de abril de 2010

Desvairada

Passa a tarde, passa o dia, o tempo, o nada
Horas espinhadas pela sala, tudo enfim se cala
Que há em mim deste meu lar de calmaria
- ceias silenciosas, o som na tarde, as horas -,
De noites varadas a fio, enfim, que há?
Serei aqui, será? Aqui, além? Já não o sou?
O vento arrasta folhas na varanda, leviano
Traz à memória homens do mundo
A sacudir em desalinho como as folhas
- secas, pelos ares, sem razão -
Serei eu aquele homem solitário
À margem da estrada pela noite
E serão meus aqueles seus olhos de nada?
Horas a fio ali no breu, estradas passadas
Será ele eu mais do que eu, assim vazio, leviano
E eu em mim, assim, como um disfarce
De moça desvairada desse lar - o mundo à margem?
Meu juízo a crepitar no breu da noite
A noite, as horas passando, espinhadas
Que há de mim neste penar em desalinho
Arrastado pelo chão, lançado aos ares desse dia?
Serão as folhas? Serei eu? Já não as sou?
Os homens do mundo dentro de mim
Sou eu pelos ares - feito folhas, sem razão -
Asas do meu juízo - minha margem de calma -
Esse caminhar no ermo aqui por dentro
Tudo lá fora treme ao fim
De dias calmos embalados pelo vento
De horas passadas pela sala,
O lar, a varanda, o tempo, o nada, tudo treme
Ao fim do meu juízo no breu da noite,
Do sacudir das minhas asas de juízo
- pássaros em revoada à margem do dia -
A tremer em desalinho à margem da calma
Feito os homens levianos
Dentro de mim.

11 comentários:

  1. Olá, Mariana!

    Você me convidou a fazer uma viagem no tempo; e eu aceitei... Lembrei as noites mal dormidas, fiz várias indagações.
    O seu texto é um filme a passar pelos meus olhos.

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  2. Em quem se faz a alma leve
    O vento explana a dor do mundo
    Faz farragem no tino, arredia.
    E se lufadas levaram seu corpo ao desencontro de meus olhos
    Ainda tenho no vento algo do seu cheiro e de palavras doces.
    Ainda temos no vento algo que desfaz e esfria a alma trépida – também renova.
    A folha seca que fora vida desprende-se
    paira
    reboliça pelo chão.
    Haverá um novo verde - novos ventos te soprarão.

    Tomar um café nessa tarde domingueira faz mais falta que as noites boêmias. Lindo poema creuris, uau. Vou arranjar um tempo pra te escrever.
    beijo

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  3. Vc é simplesmente excepcional, jovem.

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  4. Que maravilha.. imagens, sons, acordes no vento e um ritmo de vaivém acompanham tuas palavras, dentro dos meus ouvidos. Grato pelo belo momento de interior que me trouxestes.
    Um beijo saudoso.

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  5. O vento sopra,
    Vem em cambalhotas.
    Ora revoa,
    Ora revivesce.

    Eu lhe peço:
    Ô ventinho...
    Usa teu colorido,
    Usa teu perfume.

    E chega nela em brisa.
    Brinca-lhe os cachos,
    Refresca-lhe o sorriso.

    E lhe diga, lhe diga,
    que a saudade aqui fica.

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  6. Goodnight
    close your eyes and just sleep tight
    i'll lie awake and watch your dream
    to be sure that all of your dreams are pure.





    tenho ouvido tanto e lembrado de vc...
    saudade.

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  7. Já disse que sou sua fã?
    haha!!
    gosto do "meu juizo a crepitar no breu da noite"
    e todos os momentos "desalinhados".
    E muito do fim... "feito homens levianos dentro de mim"

    lindo, lindo¹²³¹²³¹²³

    bj

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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