domingo, 31 de outubro de 2010

Descaminho

“Mas como as espumas flutuantes levam, boiando nas solidões marinhas, a lágrima saudosa do marujo... possam eles, ó meus amigos! - efêmeros filhos de minh’alma - levar uma lembrança de mim às vossas plagas!”
(Castro Alves, Espumas Flutuantes; prólogo)

Vaga de mar em meu peito
Tua memória permanece
Baldia, latente, revirada
Foram caminhos de mar
Trilhados sem rota
Em madrugadas despertas de silêncio
Aqueles teus passos tão meus
O mar amanhecendo à nossa vista
- indecifrável como sempre -
Flutua ainda uma névoa azulada de mistério:
Em que maré se foram rumar
Rebatidas de cansaço
Nossas solidões?
É tarde, eu sei
É muito tarde, caminho
Por ruas longínquas
De terra firme sob os pés,
Mas permanece inalterado
O mar imenso de saudade
Daquele tudo
Que não ousamos.

4 comentários:

  1. Naveguei numa jangada,
    guiado por suas palavras de solidão,
    sobre a corrente de cada verso-acaso:
    Em cada noite, sob o céu diamante,
    fantasiava acordado
    sobre aquele vívido mundo distante
    das terras firmes que conheci outrora,
    cujas areias não ultrapassei.

    ResponderExcluir
  2. Agora bateu aqui, viu!

    "Solidão, que poeira leve..." (Tom Zé)

    Beijoo!

    ResponderExcluir
  3. Ah.... eterna lembrança que os lusitanos nos deixaram do mar: Liberdade e Dor.

    Lançar-se as águas é incerteza. Em busca da terra firme, perdemo-nos sem rota e debulhamo-nos em naufrágios.
    Haverá sempre o sonho de descansarmos na sombra de um porto seguro... até se ter uma nova ânsia que nos faça navegar.

    "navegar é preciso, viver não é preciso. "

    Linda mari.

    ResponderExcluir
  4. longo
    suspiro
    e cheiro
    de sal


    mais um poema liiindo Mari!

    ResponderExcluir