Na esquina, um velho homem sentado num banco. Cigarro aceso, o olhar distante e a eternidade pousada sobre cada tragada. Vende alhos e não nota que lhe investigo os mistérios a cada manhã que atravesso aquela rua. Entre poeira, pessoas e ruídos, parece meditar absorto em outro mundo. O que lhe toma os pensamentos? Corpo franzino, as pernas cruzadas, a pele preta, as mãos pequenas, o cigarro empunhado de modo que, no trago, quatro dedos pretos lhe tomem a frente da boca. Mudez. Como seria a sua voz? Os olhos parados parecem enxergar através das coisas, a calma nos movimentos parece calculada para que não interfiram no pensar.
Penso em comprar alhos. Em ver aos meus voltados aqueles olhos tão distantes. Desisto. Opto por observar de longe. Ele não parece precisar de mim, do meu dinheiro, da venda dos alhos. Ele não parece precisar. Placidez que só acompanha quem muito viveu, quem de muito sabe, quem pouco espera.
Não sei como chega, quando vai. Não sei quem terá sido, quem é e se porventura sonhou na tenra idade com a banalidade crua daquela esquina. No entanto, invejo-lhe a calma com que suga do mundo o ar que mantém luzente a sua brasa. Não sei como suporta, como resiste ao caos do entorno assim, mimético, dissolvido no velho muro que lhe ampara o dorso. É só um velho e o caos só afeta a quem lhe abre as portas. Não é o seu caso. Nada existe. O fim do ciclo se anuncia e o corpo revela a cada ruga, a cada tremor, a certeza de que não há de fato o que esperar, de que não há nada na virada da esquina que possa fazer tanta diferença. O caminho é um só. Absolutamente.
Penso em comprar alhos. Em ver aos meus voltados aqueles olhos tão distantes. Desisto. Opto por observar de longe. Ele não parece precisar de mim, do meu dinheiro, da venda dos alhos. Ele não parece precisar. Placidez que só acompanha quem muito viveu, quem de muito sabe, quem pouco espera.
Não sei como chega, quando vai. Não sei quem terá sido, quem é e se porventura sonhou na tenra idade com a banalidade crua daquela esquina. No entanto, invejo-lhe a calma com que suga do mundo o ar que mantém luzente a sua brasa. Não sei como suporta, como resiste ao caos do entorno assim, mimético, dissolvido no velho muro que lhe ampara o dorso. É só um velho e o caos só afeta a quem lhe abre as portas. Não é o seu caso. Nada existe. O fim do ciclo se anuncia e o corpo revela a cada ruga, a cada tremor, a certeza de que não há de fato o que esperar, de que não há nada na virada da esquina que possa fazer tanta diferença. O caminho é um só. Absolutamente.