(para José)
Caminhávamos sóbrios, nós dois
Era tempo de seguir
À frente, a imensidão de uma árvore se impunha
Seca, frondosa, desfolhada
– éramos pequeninos
–
Um pássaro negro habitava-lhe o topo
Apenas um, solitário, como nós
Embora fôssemos dois
No céu, um poente nublado
Eivando de sombras a paisagem
Banhava-nos de certa luz oblíqua
Atravessando nossos olhos de incerteza
Em redor, via-se o ermo, apenas
O descampado sem fim
– éramos finitos
–
Vastidão,voragem sombria de onde a noite vertia
Aos poucos derramada sobre nós
Aos nossos olhos sóbrios, atravessados
Seguíamos desafiando a escuridão
– éramos cegos
–
Embora soubéssemos os passos
E no breu de um instante supremo
– sem passado, nem futuro
–
Sumíamos de nós no escuro
Devorados pela noite
Onde tudo permanece e tudo some
Eu, no escuro de você
Você, no escuro de mim
Sumíamos de nós
No escuro
Era tempo de seguir.